Quanta água tem na carne
Artigo por: Luiz Josahkian
Nos fóruns internacionais um dos temas recorrentes é o uso consciente da água, uma preocupação legítima, presente em qualquer lista de prioridades de governos, instituições ou pessoas.
Na produção animal, a primeira abordagem sobre o uso dos recursos naturais foi proposta por William Rees e Mathis Wackernagel no início dos anos 1990. Eles criaram um indicador chamado pegada ecológica (PE) que indica a área em hectares necessária para a produção de um determinado produto. Mas foi somente em 2002 que Arjen Hoekstra, da Universidade de Twente (Holanda), introduziu um novo indicador e o batizou de pegada hídrica (PH) -- o volume de água usado durante a produção e o consumo de bens e serviços.
A PH tornou possível a cada cidadão se autoavaliar como consumidor. Até aí, tudo certo. Cuidar do planeta é uma obrigação.
Mas as discussões ficam polarizadas e perdemos a capacidade de encontrar as soluções mais equilibradas e factíveis, já que não faz parte da lista de opções da humanidade deixar de se alimentar.
Como é de praxe, a pecuária foi para a berlinda.
As pegadas hídricas estimadas colocam a criação de gado, especialmente a de corte, como líder no consumo de água. Só que é preciso considerar muitos aspectos. Água azul é aquela proveniente de fontes naturais -- rios, lagos ou fontes subterrâneas. É a mais sensível entre as três classificações. Água verde tem origem no ciclo natural da água das chuvas, desde que não seja perdida por escoamento, e que alimentam o solo, o qual, por sua vez, alimenta as plantas e retorna ao ciclo hídrico. Água cinza é a necessária para remover os poluentes de um determinado sistema de produção, mais demandada em sistemas industriais e outras atividades intensivas e de transformação de produtos.
Na pecuária, o uso mais expressivo é o da água verde, aquela que naturalmente se integra ao ambiente e é transformada, via solo e planta, em energia e proteína. A PH indica que 94% do total de água consumida na produção de carne vermelha é água verde e ainda, que 98% dessa água são absorvidos através do alimento. Apenas 1,1% é água bebida. Nesse contexto, a produção a pasto é a mais equilibrada do ponto de vista do consumo de água. Neste sistema não há competição com a alimentação humana porque ninguém come capim. A água consumida via alimento se perderia via evapotranspiração das plantas caso não fosse transformada pelos ruminantes em proteína nobre.
Já a pecuária intensiva, baseada na alimentação com grãos, acaba sendo mais produtiva sob o ponto de vista de redução de tempo de abate e da produção relativa de energia/proteína por unidade de consumo. Contudo, há nesses sistemas intensivos um aumento no uso de água azul,de forma direta ou na produção de grãos que irá alimentar o gado.
O desafio da pecuária é descobrir o boi que cresça e termine rápido a pasto, consumindo, essencialmente, água verde. Afinal, toda água doce um dia chega ao mar. Se nesse trajeto uma pecuária consciente colocar vacas, touros e bois bebendo um pouco de água para produzir eficientemente proteína nobre, isso será apenas a natureza tal como ela foi feita e somente melhorada por nós e para nós mesmos.
Melhor encontrarmos uma pecuária otimizada, onde os bois, com seus milagrosos rumens povoados de bactérias, fungos e protozoários do bem, continuem operando de forma sustentável o milagre de transformar capim em proteína nobre para o nosso sustento.
Artigo publicado na Revista Globo Rural (Fevereiro/2016) Fonte: ABCZ com curadoria Boi a Pasto
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